Projeto colombiano aumenta número de motoristas de ônibus mulheres em Bogotá
- Clara Castanho
- 9 de jun.
- 3 min de leitura

A empresa de transporte público La Rolita é a primeira em Bogotá a apostar em um sistema sustentável com uma abordagem de igualdade de gênero, já que mais da metade dos motoristas de ônibus são mulheres. Com o apoio do C40, a operadora fez o número de condutoras crescer, com expectativa de chegar a 50%, o que marca uma mudança na dinâmica de um setor masculinizado. Luis Alejandro Barragan, analista de projetos especiais do La Rolita, disse que se sente emocionado por ser testemunha do empoderamento das mulheres, que encontraram na empresa uma oportunidade para construir um futuro melhor para elas e para suas famílias.
La Rolita é um projeto da Prefeitura de Bogotá criado em 2022 para formar condutoras. Com o objetivo de corrigir desigualdades históricas no setor de transporte, a iniciativa traz oportunidades de desenvolvimento profissional para mulheres e as coloca em um papel de liderança. A iniciativa capacita aquelas que enfrentam desvantagens sociais e econômicas, fornece apoio psicossocial profissional, formação em finanças pessoais e ensina sobre a importância do autocuidado. O processo de formação tem algumas etapas com aulas teóricas e práticas de direção defensiva, conhecimento do funcionamento do veículo, protocolos de segurança e emergência, e manutenção preventiva básica.
Além do projeto dar a oportunidade no mercado de trabalho, as mulheres também têm a chance de melhorarem as vidas de suas famílias. Sandra Fonseca, uma das colombianas que fez parte do projeto, contou que antes do La Rolita trabalhava fazendo roupa infantil e recebia menos de um salário mínimo, que mal conseguia cobrir as necessidades. “Meu horário era muito exaustivo, não tinha benefícios de lei e se quisesse ganhar o suficiente para pagar o aluguel, tinha que trabalhar muito.”
Apesar de serem frequentemente vistas como mais cuidadosas e atentas, as motoristas ainda enfrentam preconceito. Um estudo do sistema de transporte público de Bogotá, o TransMilenio, revelou que entre 2013 e 2017, condutores homens estiveram envolvidos em mais acidentes com feridos do que mulheres, com uma diferença de 10%. A pesquisa também apontou que, em 1% dos casos em que o ônibus era conduzido por um homem, o incidente resultou em morte.
O projeto La Rolita
A iniciativa conta com uma equipe psicossocial multidisciplinar que oferece acompanhamento tanto para assuntos de trabalho quanto pessoal, oficinas para saúde mental e um canal confidencial para tratar situações de assédio ou discriminação. O Analista de Projetos Especiais do La Rolita, Luis Alejandro Barragan revelou que são promovidos espaços de desenvolvimento profissional e capacitação contínua, para fortalecer trajetórias profissionais dessas mulheres e ampliar as oportunidades de crescimento dentro da organização. "Na La Rolita acreditamos firmemente no bem-estar integral de nossas trabalhadoras, reconhecendo que seu sucesso pessoal e profissional é fundamental para o funcionamento do projeto."
Ser motorista de ônibus em Bogotá é um ato de resistência e de reconfiguração de papéis sociais. Muitas das mulheres que hoje estão ao volante enfrentam barreiras para chegar ali, desde o machismo dentro de suas próprias famílias até a falta de oportunidades de capacitação. Dados de março da TransMilenio, empresa que administra o sistema de transporte público municipal, revelaram que apenas 2,8% dos motoristas de ônibus públicos na capital colombiana eram mulheres. Com a criação do projeto, a participação chegou a 48%.
Atualmente o setor de transportes é masculinizado, então ao subir em um ônibus, não é comum ver uma mulher como condutora. Mesmo com isso, a reação do público colombiano tem sido majoritariamente positiva e superaram as expectativas iniciais do La Rolita. Luis Alejandro contou que recebe inúmeras demonstrações de admiração pelo trabalho das motoristas, desde comentários em redes sociais destacando sua amabilidade e profissionalismo até em pesquisas de satisfação de passageiros que se sentem mais seguros e confortáveis durante as viagens. “Os feedbacks positivos evidenciam uma mudança cultural em andamento, em que se desafiam estereótipos de gênero e se valoriza o talento e a capacidade das mulheres em todos os âmbitos.”
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