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Bahnstadt, bairro alemão, aposta em “casas passivas” para um futuro de zero emissão de carbono

Atualizado: 1 de jul.

Oeste de Bahnstadt: projeto de casas e apartamentos passivos do bairro alemão é o maior do mundo atualmente
Oeste de Bahnstadt: projeto de casas e apartamentos passivos do bairro alemão é o maior do mundo atualmente

Os edifícios de Bahnstadt, bairro da cidade alemã de Heidelberg, consomem de 50% a 80% menos energia do que as construções convencionais. A economia se deve ao conceito de "casas passivas", cujo isolamento térmico reforçado dificulta a entrada de calor durante períodos quentes e ajuda a manter uma temperatura interna agradável em épocas frias. Em Bahnstadt, todas as habitações seguem esse padrão. A ideia, agora, segundo a arquiteta e certificadora de casas passivas do Instituto alemão de Casas Passivas, Susanne Theumer, é expandir a experiência para outros lugares da Alemanha e do planeta.


“A melhor maneira de avançar é primeiro concretizar alguns projetos-piloto e depois apoiar a transição para melhores edifícios, através da transferência de conhecimento, do desenvolvimento de capacidades e de eventos públicos. Um exemplo disso é o Ice Box Challenge, no Paraguai: um evento global, organizado em Assunção, pelo Paraguay Green Building Council e pelo Instituto Latino-Americano Passivhaus”, afirmou Susanne.

Nessa ocasião, os institutos uniram forças para desafiar os padrões de construção paraguaios e buscaram conscientizar a população sobre a importância de edificações sustentáveis e da eficiência energética no combate às mudanças climáticas.


O projeto de casas e apartamentos passivos de Bahnstadt é o maior do mundo atualmente e serve de exemplo para outras cidades, segundo a Secretaria de Proteção Ambiental, Supervisão Comercial e Energia. Uma cidade que está usando o bairro como modelo, segundo eles, é a “Railway City”, em Gaobeidian, na China. Em 2014, Bahnstadt ganhou o “Prêmio de Casas Passivas”, por ser a “Região de casas passivas do ano”. Já no ano seguinte, a cidade de Heidelberg ganhou o “Global Green City Award” na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque. A premiação foi atribuída à cidade por ter promovido a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que são 17 objetivos globais estabelecidos pela ONU na Agenda 2030 para incentivar o crescimento econômico sustentável em todos os países, com o propósito de acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir paz e prosperidade para todos até 2030.


As casas passivas de Bahnstadt fazem parte do projeto de criação de um distrito com zero emissão de carbono, idealizado pela prefeitura de Heidelberg. O bairro começou a ser construído em 2008 e em 2009 foi declarado como o 15o distrito da cidade. De acordo com a engenheira de planejamento sustentável urbano da Secretaria de Meio Ambiente, Supervisão de Comércio e Energia de Heidelberg, Wiebke Großkopf, a prioridade na construção de Bahnstadt foi o meio ambiente desde o começo. “Porém, muitos investidores precisaram primeiro ser convencidos de que o padrão de casa passiva faria sentido para as construções antes de financiá-las”, afirmou Wiebke. Para ela, esse foi um dos maiores desafios enfrentados na realização do projeto.


Com a proposta de ser um lugar totalmente sustentável, Bahnstadt foi planejado nos mínimos detalhes. Um deles é a exigência de que todos os edifícios construídos ali devem atender aos critérios do Passive House Standard, um padrão que exige um isolamento térmico eficaz para que não seja necessário gastar energia com regulação térmica. Esses tipos de casa tem o objetivo de reduzir o uso de aquecedores por meio de um denso isolamento de paredes, telhados e janelas. O limite para uma casa ser considerada passiva é um gasto com aquecedores de 15 kWh por m2 por ano (aproximadamente 10% da demanda média de calor de edifícios na Alemanha). O resto de energia que é necessário para fazer outras coisas (ver TV,

por exemplo), vem de fontes renováveis.


Em 2022, cerca de 5800 pessoas já moravam em Bahnstadt e a previsão é de que esse número aumente para 6800. Lá, a idade dos habitantes é 10 anos mais nova do que a média na cidade de Heidelberg. 50% da população do bairro tem menos de 30 anos. O investimento para construir o distrito foi de mais de 2 bilhões de euros, segundo o site da prefeitura de Heidelberg.


Casas Passivas ganham terreno no Brasil e prometem economia de até 90% de energia


Imagine viver em uma casa onde, durante praticamente o ano inteiro, a temperatura interna se mantém agradável, entre 20 °C e 25 °C, sem a necessidade constante de ar-condicionado. E mais: economizando até 90% de energia em comparação a uma residência convencional. Essa é a proposta das chamadas casas passivas, um modelo de construção sustentável que começa a dar os primeiros passos no Brasil.


Criado na Alemanha e regulamentado pelo Passive House Institute, o conceito de casa passiva se baseia em um conjunto rigoroso de critérios que garantem conforto térmico, qualidade do ar e eficiência energética. O modelo já é amplamente adotado na Europa e agora começa a despertar o interesse de arquitetos e engenheiros brasileiros, principalmente na região Sul, onde as condições climáticas são mais compatíveis com o padrão europeu.


Mas, por aqui, os desafios são numerosos. “O brasileiro aceita o frio dentro de casa como algo natural. No inverno, se cobre com mantas. Mas no verão, corre para ligar o ar-condicionado”, afirma Eduardo Grala, arquiteto e um dos únicos profissionais no Brasil certificados para validar casas passivas. “Isso mostra como ainda não entendemos o que é conforto térmico”, completa.


O que é uma casa passiva?


Ao contrário do que muitos pensam, a casa passiva não tem um estilo visual específico. O que a define são cinco princípios técnicos rigorosos:


- Isolamento térmico eficiente, que impede o calor externo de entrar no verão e conserva o calor interno no inverno.


- Ventilação mecânica com recuperação de calor, que permite a renovação do ar sem perder energia.


- Janelas de alto desempenho, que evitam infiltrações e perdas térmicas.


- Ausência de pontes térmicas e frestas, como em tomadas e luminárias.


- Alta estanqueidade do ar, comprovada por um teste chamado blower test, que verifica se a casa está devidamente vedada.


Além da economia de energia, um dos grandes diferenciais das casas passivas é a qualidade do ar interior. Como o ambiente permanece seco e controlado, fungos e mofo não se desenvolvem — um problema crônico em muitas residências brasileiras e uma questão séria de saúde pública.


Primeiras experiências no Brasil


No Brasil, a adoção do modelo ainda engatinha. Até dois anos atrás, apenas três profissionais no país estavam habilitados a certificar esse tipo de construção. Entre eles, o arquiteto Eduardo, que está iniciando neste ano a construção da primeira casa passiva residencial certificada em um condomínio no Sul do país. O projeto já foi aprovado pelo condomínio e por órgãos de regulamentação de água, e agora aguarda liberação final da prefeitura.


“Durante a obra, cada etapa será documentada. No final, aplicamos o blower test para medir a estanqueidade. Se tudo estiver como projetado, o imóvel recebe a certificação”, explica Eduardo. O processo garante que o desempenho prometido seja realmente entregue.


Dificuldades e perspectivas


Apesar do potencial, as casas passivas enfrentam diversos entraves no Brasil. O primeiro é o custo inicial mais elevado, principalmente por conta da necessidade de materiais específicos e mão de obra qualificada. Além disso, o país não possui fabricantes locais de sistemas de ventilação com recuperação de calor de alta eficiência, o que obriga à importação.


Outro obstáculo é cultural. “Hoje, o consumidor brasileiro não compra conforto térmico. Muitas vezes, nem sabe o que é isso. As pessoas procuram imóveis pelo número de quartos ou pela metragem, não pela eficiência energética”, lamenta o arquiteto.


Mesmo assim, há espaço para otimismo. O mercado de alto padrão — como os condomínios fechados — pode ser a porta de entrada para esse tipo de construção. Com a primeira casa certificada, espera-se abrir caminho para que o conceito se difunda e que a indústria nacional passe a produzir os equipamentos necessários.


Adaptação ao clima brasileiro


Adaptar o conceito europeu ao clima brasileiro exige alguns cuidados. No Sul, a aplicação é mais direta, mas em outras regiões é fundamental controlar a radiação solar com técnicas de sombreamento, orientação adequada do edifício e cuidado com o overheating — quando uma casa muito bem isolada acaba se tornando uma estufa ao receber sol direto sem proteção.


Para Eduardo, o desafio é técnico, mas também pedagógico: “Hoje, arquitetos e engenheiros trabalham com o que o cliente pede. E o cliente ainda não exige conforto térmico. A mudança começa pela conscientização.”


Um novo paradigma


O conceito de casa passiva representa uma ruptura com o modelo tradicional de construção, baseado em climatização artificial e pouca eficiência. Em um cenário de crise climática e aumento nas contas de energia, esse tipo de construção pode ser um caminho promissor para o futuro da habitação no Brasil.

1 comentario


Amei a reportagme Luiza! Parabéns!!!

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