Hortas comunitárias são alternativas para a sustentabilidade em favelas no Rio
- Murilo Lessa
- 3 de jun.
- 3 min de leitura

Semanalmente, a horta comunitária Maria Angu, na favela da Kelson’s, no complexo da Maré, abastece a creche Ovelinha de Jesus com folhas e ervas para alimentação diária das crianças. Antes, fornecia para a creche Hotelzinho das Crianças, que foi fechada recentemente. Além da função alimentar, a horta colabora com questões educacionais e ambientais. A Horta na Favela, na Rocinha, também abraça esses objetivos.
A Maria Angu surge de uma iniciativa Instituto de Estudos Avançados em Humanidades da PUC-Rio (IEAHu) e um projeto de alunos da universidade, para montar uma ação socioambiental em periferias do Rio. Walmyr Júnior, mestrando em Ciências da Sustentabilidade e criado na Kelson’s, trabalhava na pastoral universitária, que foi procurada para dar suporte. Hoje, Walmyr é um dos principais administradores da horta.
Segundo ele, além da creche abastecida pela ação, também oferece alimentos para os moradores que são voluntários nos mutirões. Mas a função social não inclui apenas a alimentação.
- “Então, a horta, ela promove trabalho, ela promove agricultura, ela propõe a erradicação da fome, ela pauta a superação da divisão de gênero que nós temos de uma forma tão concreta no território periférico favelado, onde a maioria das famílias são chefiadas por mulheres.”, diz Walmyr.
O coordenador da horta também fala sobre a importância do consumo de alimentos produzidos pela população local.
“Então, quando você faz um produto de qualidade, com uma riqueza nutricional, diferente dos alimentos comprados no mercado, que muitas vezes são envenenados, ou então supera a alimentação que está pautada na alimentação artificializada como são os embutidos, industrializados. Então, você substitui essa alimentação e garante, assim, uma autonomia da população e garante uma melhor segurança alimentar.”
As hortas em questões climáticas
Além da educação socioambiental, a Maria Angu também visa a influência em questões climáticas, principalmente no resfriamento da temperatura de favelas, que são grandes ilhas de calor, pela grande presença de concreto e pouca arborização.
- “Quando você olha para uma horta, você vai achar que ela é uma horta de pequeno potencial quantitativo para as soluções climáticas que a gente almeja. Só que, quando você faz uma mensuração de que cada comunidade territorial, cada comunidade periférica pudesse ter o seu espaço, a gente teria, com certeza, uma diminuição dos efeitos climáticos naquela região.”, afirma Walmyr.
Esse processo também reverte os efeitos das chamadas “ilhas de calor”, locais de grande concentração de materiais, como o concreto, que absorvem calor. Essa é a área de estudo de Walmyr.
- “Quando você pensa numa escalada de construção de corredores arbóreos, corredores de árvores frutíferas, você está diminuindo o impacto do calor naquele território, diminuindo, assim, as ilhas de calor.”
Horta na Favela, da Rocinha
Já na Rocinha, o Horta na Favela oferece cursos para moradores sobre uso de resíduos orgânicos como adubo. Flávio Gomes, idealizador do projeto e morador da favela, começou o projeto ao perceber a presença constante de resíduos sólidos, na porta das casas, sem utilidade e poluído o local. Assim surgiu a iniciativa de usar a parte orgânica dos resíduos para gerar adubo.
Segundo Flávio “não existe lixo, existe resíduo”. Nesse início do projeto fez cursos de jardinagem e passou a ensinar os moradores, além dr palestrar em escolas sobre o reaproveitamento de compostos orgânicos.
- “Vejo hoje na sustentabilidade um caminho para a igualdade social. A gente pode viver numa favela limpa, numa favela mais próspera", diz o idealizador do projeto.
Hoje o projeto trabalha com um grupo de 90 crianças e moradores da Rocinha, todos recebendo os alimentos colhidos na horta. Atualmente o projeto recebe apenas ajuda de pessoas próximas de Flávio.
A presença de hortas comunitárias cresce como uma alternativa em regiões periféricas ou com pouco suporte para conscientização de questões climáticas e de sustentabilidade. Atualmente poucas iniciativas públicas auxiliam o crescimento desses projetos. Em âmbito municipal, apenas o programa Hortas Cariocas, na prefeitura, fomenta iniciativas de agricultura urbana.
Comments