Ecoparque transforma antigo zoológico em símbolo de sustentabilidade em Buenos Aires
- Rodrigo Lemgruber
- 16 de jun.
- 3 min de leitura

Na agitada paisagem urbana de Buenos Aires, um espaço verde se destaca como símbolo de transformação e esperança ecológica: o Ecoparque. Localizado onde, antes funcionava o Zoológico da cidade, o parque passou por uma reformulação completa e hoje proporciona uma experiência imersiva na fauna e flora argentina.
“Muitas das espécies que estão lá foram resgatadas de situações de risco. Esse parque além de oferecer abrigo para esses animais, também ajuda a conscientizar a população acerca de inúmeras questões envolvendo a preservação do meio ambiente.” afirma Mauro Raggio, biólogo e morador de Buenos Aires.
O lugar onde antes ecoavam rugidos e passos pesados de elefantes confinados, hoje floresce um refúgio urbano de vida e consciência ambiental com alguns desses animais transitando livremente pelo parque junto com os visitantes, como o condor-dos-andes, ave símbolo da Patagônia, que pode chegar a até 130 centímetros de altura, e o Mara, roedor sul-americano, que pode chegar até 75 centímetros.
Mas o Ecoparque vai além de proporcionar abrigo: ele se tornou referência na recuperação, conservação e reintrodução de espécies ameaçadas da fauna argentina, desempenhando papel fundamental no equilíbrio ambiental da região. Entre os principais animais beneficiados por seus programas estão o tamanduá-bandeira, o tapir, reintroduzido com sucesso nas províncias de Tucumán e Jujuy, e o guacamayo-vermelho, que voltou a habitar áreas da província de Corrientes.
Com aproximadamente 18 hectares de área verde no coração do bairro de Palermo, “Este parque é um pulmão para a cidade, tanto literal quanto simbolicamente” afirma Mauro Raggio. O Ecoparque não é apenas um refúgio para visitantes, mas também um abrigo crucial para espécies ameaçadas e um polo de educação ambiental. Desde sua criação em 2016, o projeto tem como principal objetivo deixar para trás o modelo retrógrado de exibição animal e promover um espaço de interação consciente entre pessoas e natureza.
Além de sua função ecológica, o parque também abriga o Banco de Recursos Genéticos de Fauna Silvestre, o maior da América Latina, com mais de 8.300 amostras biológicas de quase 100 espécies diferentes — incluindo o águila-coroada, o lobo-gargantilha (ou ariranha), o cardeal-amarelo e o mono carayá. Esses programas de conservação, tanto “ex situ” quanto “in situ”, buscam preservar a biodiversidade e reintroduzir os animais de forma segura em seus habitats naturais.
O yaguareté, o aguará-guazú, o puma, o gato-andino, o huemul, o pudú e diversas espécies de corçuelas também fazem parte dos esforços de preservação. Muitos deles foram vítimas do tráfico ilegal, da perda de habitat ou de maus-tratos — e encontraram no Ecoparque uma segunda chance de viver, reproduzir e, quem sabe, voltar ao seu ambiente natural.
Um espaço de reflexão sobre a relação entre humanos e animais é a melhor forma de caracterizar o trabalho que está sendo feito no Ecoparque. Vários recintos onde antes viviam tigres, leões e elefantes hoje abrigam exposições educativas, jardins nativos e áreas de pesquisa científica.
Guilherme Chagastelles, que está visitando Buenos Aires como turista, contou um pouco de sua experiência: “Eu achei incrível como o lugar é tranquilo, mesmo estando no meio da cidade. Os animais que vivem ali parecem bem cuidados, e tem muito verde. Eu nem sabia que era um antigo zoológico... achei muito legal essa ideia de transformar em um espaço mais educativo e sustentável.”
O Ecoparque é também um exemplo de como as cidades podem transformar espaços históricos em agentes de mudança sustentável. Com projetos de captação de água da chuva, energia solar e compostagem, o parque reforça a ideia de que sustentabilidade é uma prática possível mesmo em ambientes urbanos densamente povoados.
Para uma metrópole como Buenos Aires, marcada por seus contrastes e desafios ambientais, o Ecoparque é mais do que um destino turístico: é um compromisso com o futuro. Um espaço onde a natureza deixou de ser enjaulada para, finalmente, florescer em liberdade.
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