Responsáveis por 70% das emissões de carbono, metrópoles se unem para combater mudanças climáticas
- Beatriz Souza e Carolina Botino
- 25 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de jul.

As cidades produzem cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Elas são ao mesmo tempo problema e solução. Com o compromisso de usar a experiência acumulada no enfrentamento das mudanças climáticas, quase 100 das grandes metrópoles do planeta resolveram se unir em torno de um pacto para a redução à metade das emissões de carbono até 2030.
Esse é o compromisso central do C40, uma rede formada por prefeitos das principais cidades do mundo, comprometidos em enfrentar a crise climática e construir comunidades mais saudáveis, equitativas e resilientes. São elas que enfrentam os maiores impactos provocados pelas mudanças climáticas, como deslizamentos, enchentes e incêndios. Portanto, ninguém melhor do que os prefeitos para apontar as soluções para as tragédias ambientais.
O diretor regional da C40 na América Latina, Ilan Cuperstein, acredita que elas podem ser a chave para resolver o problema pela experiência acumulada em cinco setores relacionados à redução das emissões: mobilidade urbana (transporte público, carros particulares, veículos de carga, bicicletas e pedestres); energia (promover alternativas renováveis); eficiência energética (obras urbanas que não gastem matrizes energéticas); resíduo (destinação inteligente); e adaptação (se preparar, e ter ferramentas de dados para casos de catástrofes).
– As metrópoles são os lugares com os maiores impactos. O peso dos setores para mitigar a crise varia de cidade para cidade, muitas vezes de região para região, mas são ações que reduzem o risco de inundações urbanas, ondas de calor, secas e deslizamentos – afirmou Cuperstein.
Intercâmbio de ideias
Entre as prefeituras do C40, cinco são brasileiras - Salvador, Fortaleza, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. O grupo promove um intercâmbio de ideias entre as prefeituras participantes. Eles dão suporte para estruturar um projeto que achem interessante e relevante, e estimulam as cidades a compartilhar soluções e maneiras de aplicá-las na prática. Já existem diversos casos, como as bicicletas compartilhadas. O sistema foi aplicado em várias metrópoles a partir do momento em que começaram a estratégia de trocar informações, e o resultado pode ser observado em grandes cidades da América Latina, como Bogotá, na Colômbia, e Buenos Aires, na Argentina.
– É uma competição boa, porque incentiva as cidades a tomarem ações mais rápidas, mais ambiciosas e mais inovadoras - disse Cuperstein.
As soluções do grupo são viáveis, também, devido à parceria entre as prefeituras. Com a troca de experiências, as cidades se tornam mais funcionais entre si e aptas a corrigirem possíveis falhas. Atualmente, o sistema de bicicletas compartilhadas é comum em toda a América Latina, o que não existia há duas décadas atrás.
Financiamento é prioridade
Para Cuperstein, uma das prioridades do C40 é viabilizar o financiamento de ações voltadas à mitigação dos impactos da crise climática. Segundo ele, é fundamental garantir que mais recursos cheguem às prefeituras, já que, muitas vezes, elas sabem quais medidas tomar, mas enfrentam dificuldades para obter apoio financeiro.
– Estamos em um momento em que as cidades já entendem o que precisam fazer. Muitas delas, pelo menos as que participam do C40, colocam em prática os planos de ação climática. No entanto, muitas vezes as prefeituras não têm competência porque várias ações dependem de outros níveis de governo ou não possuem financiamento suficiente.
Justiça social na América Latina
A agenda climática na América Latina é pautada com base no desenvolvimento. Diferente de outras regiões do planeta, os países latino-americanos enfrentam grandes desafios estruturais, como desigualdade social, habitação informal e limitações financeiras, o que torna impossível separar a pauta ambiental das demandas sociais.
O plano regional do C40 busca adequar as metas globais de redução de emissões para realidades locais, como a priorização do transporte público sustentável em áreas de maior poluição e vulnerabilidade. Questões como a melhoria da habitação e da mobilidade urbana não são tratadas apenas como metas ambientais, mas como estratégias de inclusão, saúde pública e equidade.
– A agenda climática na América Latina é baseada no desenvolvimento e justiça social. Nós só vamos resolver e avançar a agenda climática urbana na América Latina quando ela estiver completamente alinhada com essas questões – explicou Cuperstein.
O futuro das cidades latino-americanas está diretamente ligado à capacidade de promover justiça socioambiental com soluções integradas. De acordo com as ideias do C40, a adaptação às mudanças climáticas deve priorizar comunidades em áreas de risco, muitas vezes ocupadas por populações de baixa renda, e investir em setores que criem empregos e benefícios sociais, como energia solar e transporte público eletrificado.
Para isso, o engajamento de múltiplos atores, como prefeitos, governos estaduais e nacionais é essencial. Atualmente, o desafio para combater as mudanças climáticas está em unir clima, desenvolvimento e justiça em uma mesma decisão política.
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